Ao lermos os artigos da socióloga professora da Universidade de São Paulo (USP) Helena W. Abramo no que se refere a juventude brasileira, percebemos que, tradicionalmente, o Brasil manifestou pouca atenção às questões pertinentes à juventude. Diferentemente de outros países nunca existiu aqui uma tradição de políticas especificamente destinadas aos jovens.
No entanto, nos últimos anos, os meios de comunicação, a academia, os atores políticos e as instituições governamentais e não – governamentais têm pautado discussões acerca da juventude na contemporaneidade.
Acontece que ao pautar a temática da juventude, as instituições brasileiras, salvo exceções, tomaram os jovens como “problema” sobre o qual é necessário intervir, de uma maneira ou de outra, nos seus comportamentos, estilos e condutas para “salvá-los” e “reintegrá-los” à ordem social.
Dessa forma, sempre que os jovens são assuntos dos noticiários analíticos, ou quando se relaciona a questão da juventude à cidadania, os temas mais comuns são aqueles relacionados aos “problemas sociais”: prostituição, doenças sexualmente transmissíveis, gravidez precoce, violência, crime, exploração sexual, drogas, na tentativa de dirimir ou combater tais problemas.
Para piorar ainda mais o quadro, essas discussões são travadas a revelia dos jovens, ou seja, sem a participação e envolvimento efetivo deste segmento. A sociedade brasileira tem uma imensa dificuldade de perceber os jovens como atores, sujeitos construtores e colaboradores na realização de uma sociedade plenamente desenvolvida. Como diz a professora Helena W. Abramo “parece estar presente, na maior parte da abordagem relativa aos jovens tanto no plano de sua tematização quanto das ações a elas dirigidas, uma grande dificuldade de considerar efetivamente os jovens como sujeitos, mesmo quando é essa a intenção, salvo raras exceções; dificuldade de incorporá-los como capazes de formular questões significativas, de propor ações relevantes de sustentar uma relação dialógica com outros atores”.
Porém, é de suma relevância incorporarmos a idéia de que a juventude não é um “problema”, mas parte da solução para o desenvolvimento de uma nação socialmente justa e desenvolvida em todos os seus aspectos.
Para isso, faz-se necessário invertermos o olhar sobre os jovens para, horizontalmente, construirmos políticas públicas específicas para este segmento da sociedade. Ou seja, o governo federal, os governos estaduais e as prefeituras precisam envolver a juventude em programas de formação profissional com formação integral, na qual, inclua sua formação para a cidadania, além de oferecer serviços especiais de saúde, cultura e lazer; mas acima de tudo, incluí-los nas discussões como sujeitos capazes de ações propositivas, como interlocutores para decifrar conjuntamente, o significado das tendências sociais e das saídas e soluções para elas.
Este é o desafio da sociedade brasileira, a agenda que precisa ser pautada e implementada com a plena participação da juventude.
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